sexta-feira, 17 de julho de 2009

ESPORTE É SAUDE?


Esporte é saúde?

A proposta de atividade que aqui colocamos tem a finalidade de examinar quais aspectos do esporte geram verdadeiramente benefícios, sejam eles fisiológicos, emocionais ou sociais para a saúde dos seus praticantes. Para tal discussão, inicialmente focamos nossa investigação nos atletas do chamado esporte de alto nível, ou de alto rendimento. A experiência desses atletas, por se submeterem intensamente ao treinamento e à competição, promove de forma acentuada efeitos positivos e negativos sobre a estrutura corporal e orgânica dos praticantes. As bases teóricas e o conhecimento científico nas áreas de Medicina, Nutrição, Fisioterapia, Educação Física, entre outras, derivam em parte dessas experiências. A afirmação de que “esporte é saúde”, tão difundida em campanhas na mídia e pelo senso comum, é para ser interpretada ao pé-da-letra ou há aspectos encobertos que precisam ser mais conhecidos e difundidos por trazerem riscos para os atletas, para os jovens e para a população em geral?.
A idéia é escolher personalidades emblemáticas de algumas modalidades conhecidas nacional ou internacionalmente que, pela exposição na mídia atual ou na história esportiva deste e do século passado, tenham vivido reveses durante ou depois do encerramento de suas carreiras. Nesse projeto de pesquisa, a ser proposto em uma ou mais turmas da escola, poderão surgir fatos e assuntos polêmicos que possibilitem um bom começo de discussão das relações do esporte com a saúde.
Abaixo sugerimos alguns nomes, explicitando o tipo de dificuldade enfrentada pelo atleta. O professor deve ficar à vontade para cortar, acrescentar ou refazer esta lista com seus alunos:
Ronaldinho - jogador de futebol que sofreu torções seguidas no joelho, correndo risco de encerrar a carreira ainda jovem, também protagonista de um estresse indefinido na final da Copa do Mundo de 1998.
Ben Johnson - atleta canadense que perdeu a medalha de ouro em atletismo na Olimpíada da Seul, em 1988 por ter usado anabolizantes. Compare com os casos de doping ocorridos na Olimpíada de Atenas.
Aída dos Santos - primeira mulher a participar de uma Olimpíada representando o Brasil. Atleta negra, queixa-se de ter vivido momentos de solidão, desânimo e discriminação pela delegação masculina em Tóquio, 1964. Foi auxiliada nas provas de salto em altura por um atleta peruano que lhe serviu de técnico e motivador.
Oscar Schimidt - foi o maior jogador de basquete brasileiro, atuando em várias Olimpíadas. Conquistou a medalha de bronze em Seul, 1988. No fim de sua carreira, declarou que para continuar jogando precisava ficar deitado quando não estava nas quadras e tinha dificuldade de ir ao cinema por causa de dores nas costas.
Ana Moser - problemas da jogadora de vôlei ao enfrentar uma lesão no joelho com cirurgia. Não teve condições físicas para disputar a Olimpíada de Sydney, em 2000.
Nalbert - capitão da seleção masculina de vôlei, sofreu ruptura de um tendão do ombro às vésperas da Olimpíada de Atenas.
Daiane - sofreu uma cirurgia no joelho dias antes viajar para a disputa da Ginástica Artística na Olimpíada de Atenas.
Florence Griffit Joyner - atleta americana que ganhou quatro medalhas na Olimpíada de Seul, em 1988, foi acusada de uso de anabolizantes - fato nunca comprovado. Morreu aos 38 anos por problemas de saúde supostamente causados pelo doping.
Garrincha - um dos maiores jogadores do futebol brasileiro, morreu esquecido, com problemas de alcoolismo e depressão. O estrelato e a forma de condução da carreira esportiva poderão ter influenciado seus problemas?
Mike Tyson - prestigiado boxista americano que, no auge da fama e riqueza, foi preso acusado de estupro. Após ganhar a liberdade, arrancou um pedaço da orelha do adversário durante uma luta. Exemplo de atleta com perturbações emocionais e sociais incompatíveis com o estrelato alcançado.
João do Pulo - atleta brasileiro que deteve, por longuíssimo período, o recorde mundial do salto triplo. Teve uma perna amputada em virtude de um acidente automobilístico. Viu sua vida entrar em declínio e morreu por complicações causadas pelo alcoolismo.
Neco Padaratz - surfista brasileiro no circuito profissional mundial, viu-se às voltas com o medo, declarado publicamente, após um grave acidente nas violentas ondas do Tahiti. Sua "confissão" gerou polêmica no meio esportivo. Apesar de praticar um esporte radical, pode trazer uma boa discussão a respeito dos limites emocionais influindo no desempenho esportivo.
Narciso - jogador de futebol que chegou à seleção brasileira e enfrentou a leucemia, voltando a jogar. De que forma o fato de ser um praticante de esporte de alta exigência pode tê-lo ajudado a superar um limite de saúde tão desafiador?
Guga - maior tenista brasileiro em todos os tempos. Uma cirurgia no quadril afetou sua carreira como esportista profissional.
Isabel - jogadora de vôlei da seleção brasileira nas décadas de 70 e 80, entrou em quadra até o o sétimo mês, rompendo com muitos paradigmas da mulher no esporte. Vale analisar os efeitos sobre a gestação e as dificuldades da mulher/mãe em conciliar esporte profissional e família.
Propomos que sejam estabelecidos grupos na turma para cada nome a ser pesquisado. O leque de atletas selecionados será estratégico para proporcionar uma análise que contribua para o aprofundamento das questões ligadas aos esportes.
Deve-se cuidar para que a escolha seja debatida com os alunos e orientada pelo professor de forma que se tenha diversidade de momentos históricos dos fatos vividos (atualidade e passado), da natureza da modalidade praticada pelo escolhido e do tipo de dificuldade enfrentada (lesões, desajustes sociais, doenças crônicas incapacitantes para o esporte, envolvimento com adição de substâncias nocivas como álcool, drogas, doping, etc).
A superação ou não do problema também é um dado relevante a ser abordado na diversidade, a critério do professor e de seus alunos.
Na etapa de levantamento do problema concreto do atleta pesquisado e de seu histórico, pretendemos:
1) estabelecer focos que possam levar a análises de diferente ponto de vista;2) estabelecer as relações principais entre os diversos interesses entrecruzados no meio esportivo.3) utilizar formas diferentes de comunicar os conhecimentos adquiridos e conclusões.
Para finalizar o trabalho, pode ser proposto o formato de um Almanaque para abrigar produções diversas, já que o tipo de estudo apresentado pode se orientar em direções e olhares multifacetados. Descreveremos as sugestões para o almanaque mais à frente.
Estabelecer alguns eixos de reflexão poderá auxiliar os alunos no entendimento dos fatos. O professor poderá usá-los, desde a fase de investigação, para focar aspectos polêmicos. Alguns pontos de reflexão organizados em eixos ou focos de abordagem de temas possíveis:
Eixo Medicina e Esporte
De que forma a ética médica se relaciona com as performances esportivas? Há respeito aos limites humanos? Há cuidados com a manutenção da integridade física e psicológica dos atletas para além da cena esportiva? Quais os cuidados preventivos para evitar problemas orgânicos e corporais nos atletas? Estes cuidados podem ser seguidos pelos atletas amadores? E pelo homem comum?
Há uma relação direta e visceral entre estas duas áreas, principalmente no preparo e na reabilitação de atletas, mas também em função da nutrição, limites corporais, metabolismo energético, Fisiologia e Anatomia que poderão possibilitar boas pesquisas e discussões. O estudo das lesões, as estruturas anatômicas envolvidas, as conseqüências do dopping, os efeitos do estresse e as degenerações conseqüentes aos esforços exagerados ou mal dosados são, sem dúvida, ganchos para o desenrolar de um bom trabalho.
O professor de Ciências pode participar, esclarecendo e auxiliando na pesquisa e no preparo de materiais que poderão ser publicados no Almanaque.
1) Eixo desportividade e ética esportiva.
Neste eixo investigaremos as origens do Esporte, seu atrelamento ao preparo militar, a análise da competitividade desde a Grécia, passando pela cultura do panis et circenses dos romanos. Com as informações históricas, chegaremos até Coubertin e daí à era do profissionalismo e do esporte espetáculo, globalizado em nosso tempo. Poderão ser feitas pontes entre estes conhecimentos históricos e suas relações com os fenômenos do Esporte de hoje.
A análise da ética esportiva não pode deixar de lado o tema violência, que se manifesta de diferentes formas no âmbito esportivo: entre atletas adversários e torcedores, contra os técnicos e dirigentes, do treinador para o atleta em uma relação autoritária, enfim, de formas variadas além de ser causa freqüente das lesões mais comuns.
2) Eixo comportamento do esportista
Vamos fazer análises sociológicas sobre o fenômeno esportivo e do comportamento dos esportistas; a presença dos atletas no imaginário das pessoas; a questão da inclusão social pelo esporte; a ascensão social vertiginosa de alguns expoentes esportivos e suas conseqüências; o contraste entre os altos salários das estrelas e a condição social da maior parte da legião de futebolistas no Brasil. Esses são temas abordados por diversos autores em ensaios, crônicas e poesias, podendo iluminar a compreensão de visões sutis no pensamento dos estudantes.
No caso do professor, encaminhar o trabalho trazendo os textos para estudo. No fim da pesquisa, poderá ser produzido material semelhante pelos alunos, abordando os fatos e informações de forma literária para o Almanaque. O estudo desses formatos de crônicas, poesias e ensaios, poderá ser orientado por um professor de Língua Portuguesa ou Literatura.
3) Eixo Mídia e Esporte
Qual o tom dado pelas mídias nas coberturas esportivas das grandes competições? Como tratam o esporte de alto nível? E as demais instâncias esportivas? De que forma o sucesso das estrelas do esporte, as cifras divulgadas nas suas negociações e o assédio que recebem influenciam as crianças e jovens? Como a mídia se relaciona com o esporte moderno? Quem são e como trabalham os cronistas esportivos?
Que relações mantêm os atletas profissionais com a mídia e vice-versa? Que fatores podem contribuir para o seu afastamento ou aproximação?
O quarto poder, como tem sido chamada a imprensa, habita o universo esportivo de forma intensa e pode ser ponte também para a entrada dos professores da área de Comunicação e Expressão na discussão.
Sugerimos ainda o levantamento de termos técnicos e táticos, o jargão de cada modalidade esportiva e a organização de um glossário que os traduza para as pessoas leigas. Seria também um bom produto para ser publicado no Almanaque da atividade.
4) Eixo métodos de treinamento e o profissionalismo no Esporte
O exame da transição entre o amadorismo e o profissionalismo no esporte. Analisar o ideal olímpico de Coubertin e as transformações em relação à aceitação dos atletas profissionais nas competições olímpicas.
Quais as implicações dos calendários esportivos nos parâmetros recomendados para uma boa preparação dos atletas, visando a sua integridade? Como é a relação dos atletas com as suas famílias em função dos compromissos e viagens constantes?
Qual a relação entre patrocinadores, clubes esportivos, atletas, televisão, imprensa e crítica especializada?
Que interesses estão em jogo no estabelecimento de mercados milionários em algumas modalidades esportivas? Quais os benefícios trazidos pelo fenômeno crescente da profissionalização dos esportistas e da organização de “circos” em torno das modalidades mais populares para a sociedade e seus cidadãos?
Estudar o rendimento médio dos esportistas de forma geral. Analisar a valorização dos atletas em relação às demais profissões.
É possível conjugar profissões formais à carreira de atleta profissional? Como isto pode se dar? As leis trabalhistas amparam os atletas como qualquer trabalhador de outras profissões?
A Educação Física como ciência; suas bases teóricas no campo da preparação física, dos limites corporais (resistência e exaustão); o fenômeno do sobretreinamento; a periodização dos planejamentos de treinamento e os métodos motivacionais modernos são interesses ultimamente em voga até para o homem comum. Que relações esses aspectos mantêm com os modismos, o boom das academias, os padrões estéticos derivados dos esportes?
Quais os recursos e o tempo necessários para atingir o ponto de competição? Do desejo de ser um atleta à viabilização deste sonho, quais são os passos necessários? Tais informações são básicas para formar uma massa crítica entre os estudantes.
Os professores de Educação Física poderão auxiliar no trabalho, orientando como se faz um planejamento para a performance esportiva - inclusive diferenciando os objetivos da disciplina na escola e no esporte de alto rendimento. A forma de apresentação das informações trabalhadas poderá vir em um ensaio fotográfico que demonstre técnicas e exercícios adequados; ou ainda na forma de um planejamento esportivo pesquisado ou em um texto informativo com recomendações preventivas para as práticas em questão.
O professor gestor do processo deve auxiliar os grupos amarrando prazos, estabelecendo funções, auxiliando na motivação e oferecendo fontes nas quais os estudantes buscarão informações relevantes. O objetivo é fazê-los refletir sobre algumas relações estabelecidas nos eixos.
Será interessante que os atletas e ex-atletas, mesmo amadores e próximos da realidade da escola, possam interagir com os alunos, trazendo a sua experiência e comentando as informações selecionadas pelos grupos. Entrevistas, possíveis convites para uma mesa-redonda ou um debate com os alunos enriquecerão as discussões. As entrevistas poderão ser registradas em fitas cassete para posterior transcrição, total ou parcial, vindo a enriquecer o Almanaque.
O prazo estipulado para as pesquisas será encerrado com a marcação de uma apresentação de cada grupo para a turma. A trajetória do atleta em foco, as causas de seu problema, suas conseqüências e as principais informações coletadas na pesquisa deverão ser socializados com o coletivo, que participará fazendo perguntas e comentando as conclusões apresentadas. O professor estabelecerá com os grupos as formas de registro, já os preparando para o próximo passo dentro da atividade: a produção do Almanaque. Este poderá conter seções que contemplem cada grupo ou encadear suas seções intercalando materiais de todos em um arranjo a ser discutido e estabelecido coletivamente.
O Almanaque
A idéia do Almanaque atende à necessidade de acolhimento do que for produzido pelos grupos, mesmo com variações quanto à qualidade, à natureza e à profundidade das informações coletadas e re-criadas. A seleção dos materiais, a diversidade de formatos e o tom até lúdico, possível neste tipo de produção gráfica, podem ser pertinentes no fechamento dos trabalhos em um produto único. A organização dos conteúdos aceita uma variedade de textos (informativo, científico, jornalístico, biográfico, crônica, poesia, ensaio,etc.) junto com charges, histórias em quadrinhos, tiras, receitas, ensaios fotográficos e entrevistas que necessitam ser organizadas para que se tenha unidade, sentido estético na diagramação e organização da publicação final.
A terceira fase do projeto, após a coletivização das produções dos grupos, implicará possivelmente a seleção e no tratamento dos materiais para o Almanaque.
A riqueza nas decisões deste processo, inclusive implicando na necessidade de entrar em contato com Almanaques diversos (Almanaque Abril, Almanaque da Folha e outros), deve levar à avaliação de todas as produções e à criação de um conselho editorial, em que se representem todos os grupos, para o fechamento da edição final.
Não deve ser descartada qualquer outra forma de apresentação - murais, páginas na internet ou mesmo exposição oral culminante para o fechamento da atividade. É bem-vinda a apresentação de cartazes com imagens, gráficos e textos, nos quais os grupos divulguem os conteúdos e o teor das conclusões de suas pesquisas.
O encerramento do processo vivido pode ocorrer com a publicação de cópias do Almanaque Esportivo para distribuição entre os alunos. Para baratear os custos de produção, o professor pode reduzir a um Almanaque por turma ou, à edição de um número oficial para a biblioteca da escola, por exemplo.
A data de lançamento do Almanaque pode ser programada como um evento escolar especial, para o qual se traga algum palestrante abalizado ou até um grupo incluindo os alunos e as pessoas consultadas na comunidade, para discutir e debater os temas tratados no trabalho. Nada impede que também se programe alguma atividade esportiva. Pode ser um jogo, uma demonstração de ginástica acrobática, capoeira ou dança - desde que esteja no contexto do evento. A divulgação da pesquisa proposta nesta atividade será apontada aos alunos desde o momento em que o professor perceba o envolvimento positivo do grupo com o assunto. O compromisso em compartilhar novos conhecimentos e as conclusões deles tiradas são muito importantes para o direcionamento dos procedimentos nos grupos e para a objetivação dos conteúdos e das tarefas. A responsabilidade dividida entre o professor e o grupo de alunos, em todas as etapas da atividade, vai desaguar na festa de culminância. O envolvimento de todos na superação dos desafios trazidos pelo tema e o cumprimento das metas estabelecidas poderão trazer para todos congraçamento e muito prazer. O nome do Almanaque a ser produzido pode dar o tom das vivências ao longo da atividade. Bom trabalho!

Um comentário:

  1. muito interessante e criativo sou professora de educaçao fisica muito bem parabens vcs arrasaram !!!!!!!!!!!!!!!!!!

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